No panorama de frio
jazia cristalizado o voo dos gaviões.
Ao seu encontro ia fremente
o respirar da terra quente quase adormecida.
Fluía um riso irónico das dentaduras alvas da neblina
para bocas de ouvidos,
olhos de bocas.
Surgiu então coberto de silêncio
o homem que desde sempre morrera trucidado.
O seu sangue caía enquanto andava.
Das gotas pelo chão se levantaram logo as árvores de fogo
dentro em pouco a floresta incendiária
de todo o frio que o chamava.
E antes que soprasse a ventania
a borboleta colorida foi queimada.
Mas antes que o sol humidamente
repousasse num clarão de olhos fechados,
as cinzas de pirâmides se espalhavam
indo ferir o enorme olho esbugalhado
que de aquém fitava um espaço maior!
edmundo de bettencourt
poemas surdos
assírio & alvim
1981