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22 junho 2016

pedro silva sena / call center



Sob o clarão fluorescente mergulhados em um fundo
Fechados como em uma caixa.

Filas de cadeiras em chamada
Ininterruptamente
Divisórias favos de saliva.

Pinças cravadas nas têmporas
Rigorosamente
Quinze minutos

Muito bom dia, o meu nome é

Uma voz

Muito boa tarde, o meu nome é

Um nome              repetido

Muito boa noite, o meu nome é

Um número

Fechadas como em uma caixa
As gaivotas dão no ecrã das janelas
O script azul sereno.


pedro silva sena
di Versos
poesia e tradução nr. 15
junho de 2009



02 abril 2012

pedro silva sena / a rua





1

está sentada
um esgar de dentes
pele de leopardo
o casaco
escuros os tons
da saia e da camisola
a boina de malha larga roxa aos pés
arreganhada

queixo assente na palma da mão clara
cotovelo fincado sobre o joelho
olhos olhando como bolas de bilhar rolando
quieta como um peixe em um aquário

apetece-lhe apertar o nariz às senhoras
puxar pelas gravatas
furar os pneus dos táxis
assustar as franzinas

adivinha palavras nas letras cruzadas
sentada pelas soleiras pisadas
quieta como um peixe em um aquário
olhos olhando como bolas de bilhar rolando




3

Eu durmo à beira do céu
Sobre as pedras

Há muito tempo que nada me pertence

— Talvez a água

Quando corre por mim abaixo

Quando me brilha nos olhos


Talvez as folhas das árvores

Quando as aliso nas mãos

Quando tu chegas



Talvez a carne pendurada nos ossos

Quando brinco com ela


Talvez o chão

a pequena porção dele sob os meus passos


Talvez a sombra

antes de voar






pedro silva sena
di Versos
poesia e tradução nr. 15
junho de 2009