Todos eles vieram, alguns traziam sentimentos
Gravados em t-shirts, anunciando o adiantado
Da hora, e de facto o sol inclinava os seus raios
Por entre ramos de araucária como se
Polidamente tossisse, e todas as ideias assentaram
Num veludo de pó debaixo de árvores quando chuvisca:
Os infindáveis jogos de Scrabble, os apoiantes,
A célebre omelette au Cantal, e no meio de tudo isso
A voragem do tempo mergulhando sem freio pelas comportas
Dos dias, arrastando todos os seus momentos sexuais
Frente às lentes: o fim de alguma coisa.
Só então ergueste os olhos do teu livro,
Incapaz de compreender o que estivera a passar-se ou de
Dizer o que estiveras a ler. Trouxeram-se
Mais cadeiras, e acenderam-se candeeiros, mas nada
Explica como tudo isto começou a materializar-se
À tua frente e as pessoas à espera lá fora e na rua
Seguinte, repetindo-lhe uma e outra vez o nome, até o silêncio
Ascender a meio dos troncos escurecidos,
E a reunião ser dada por iniciada.
Ainda me lembro
De como te encontraram, após um sonho, de chapéu-dedal,
Absorto como uma borboleta num parque de estacionamento.
O caminho para casa era na altura melhor. Afastando-se, cada um dos
Trovadores tinha algo a dizer sobre o modo como a caridade
Seguira o seu curso e vencera, deixando-te ex-presidente
Do acontecimento, e como, embora muitos dos presentes
Desejassem que isso levasse a alguma coisa, mesmo que a um longínquo
Fio de fumo, nenhum estava tão iludido que aspirasse
A essa fresca não-existência de alguns minutos antes,
Agora que a ideia de uma floresta se pregara
Sobre as minúcias da cena. Achaste isto
Encantador, mas viraste abertamente a cara à noite
Falando para dentro dela como um megafone, sem ouvires
Ou te preocupares, embora estes ainda vivam e sejam generosos
E de todas as maneiras contidos, autorizados a entrar e a sair
Indefinidamente para dentro e para fora da paliçada
Têm imensa dificuldade em lembrar-se, quando o teu esquecimento
Por fim os salva, como uma estrela absorve a noite.
john ashbery
auto-retrato num espelho convexo e outros poemas
tradução antónio m. feijó
relógio d’ água
1995
Gravados em t-shirts, anunciando o adiantado
Da hora, e de facto o sol inclinava os seus raios
Por entre ramos de araucária como se
Polidamente tossisse, e todas as ideias assentaram
Num veludo de pó debaixo de árvores quando chuvisca:
Os infindáveis jogos de Scrabble, os apoiantes,
A célebre omelette au Cantal, e no meio de tudo isso
A voragem do tempo mergulhando sem freio pelas comportas
Dos dias, arrastando todos os seus momentos sexuais
Frente às lentes: o fim de alguma coisa.
Só então ergueste os olhos do teu livro,
Incapaz de compreender o que estivera a passar-se ou de
Dizer o que estiveras a ler. Trouxeram-se
Mais cadeiras, e acenderam-se candeeiros, mas nada
Explica como tudo isto começou a materializar-se
À tua frente e as pessoas à espera lá fora e na rua
Seguinte, repetindo-lhe uma e outra vez o nome, até o silêncio
Ascender a meio dos troncos escurecidos,
E a reunião ser dada por iniciada.
Ainda me lembro
De como te encontraram, após um sonho, de chapéu-dedal,
Absorto como uma borboleta num parque de estacionamento.
O caminho para casa era na altura melhor. Afastando-se, cada um dos
Trovadores tinha algo a dizer sobre o modo como a caridade
Seguira o seu curso e vencera, deixando-te ex-presidente
Do acontecimento, e como, embora muitos dos presentes
Desejassem que isso levasse a alguma coisa, mesmo que a um longínquo
Fio de fumo, nenhum estava tão iludido que aspirasse
A essa fresca não-existência de alguns minutos antes,
Agora que a ideia de uma floresta se pregara
Sobre as minúcias da cena. Achaste isto
Encantador, mas viraste abertamente a cara à noite
Falando para dentro dela como um megafone, sem ouvires
Ou te preocupares, embora estes ainda vivam e sejam generosos
E de todas as maneiras contidos, autorizados a entrar e a sair
Indefinidamente para dentro e para fora da paliçada
Têm imensa dificuldade em lembrar-se, quando o teu esquecimento
Por fim os salva, como uma estrela absorve a noite.
auto-retrato num espelho convexo e outros poemas
tradução antónio m. feijó
relógio d’ água
1995
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