21 outubro 2022

josé viale moutinho / triestinos

 



à ilse pollack e à claudia santos
 
 
 
1      com os vidros anos se desdobram
        murmuram-se os jogos e as damas
        como um regresso a todas as mesas
        onde o vento começa a completar-se
 
2      havia uma corda no meio da terra
        e todos os bustos do jardim municipal
        slataper saba joyce svevo e os outros
        ouvindo o que resta do vento do outono
 
3      quem se eu gritar virá à porta
        do castelo trazer-me os papéis de rilke
        e asas para que voe até ao rochedo
        de dante onde falo com nuvens baixas
 
4      merda jovem príncipe das pedras
        que as paredes se tornem chamas
        aí onde o rasto de rilke é castelo
        de cartas e papéis assombrados
 
5      eis alguns dos rostos de bronze
        sobre cada pedra os seus nomes
        numa escrita que a chuva limpa
 
        e o pó em joyce a erva em slataper
        uma gota de água em umberto saba
        svevo folhetim no diário popular
 
        aqui não entram os cães nem o vento
        e entre as árvores nada acontece
        as alamedas são o esguio giotti
 
        das bicicletas dos triestinos dos
        olhos tristes de quem se afasta
        deste outono de apontamentos mortos
 
 
 
josé viale moutinho
hífen 2 abr / set 88
cadernos semestrais de poesia
1988

 

 


Sem comentários: