elegia III
Embora a tua mão e fé, e também as boas obras
Tenham selado o teu amor, que nada pode destruir,
Sim, e porém te retrates, essa apostasia
Confirma o teu amor; agora muito, muito te temos.
As mulheres são como as Artes, comprometidas com nenhum,
Abertas a todos os inquiridores, sem valor se desconhecidas.
Se eu apanhar um pássaro, e o deixar fugir,
Outro embusteiro, usando os mesmos meios que eu,
Pode apanhar o mesmo pássaro; e, dado as coisas serem assim,
As mulheres são para os homens, não para ele, nem para mim.
Raposas e bodes; todas as bestas mudam quando lhes apraz;
E as mulheres, mais quentes, manhosas e selvagens,
Deveriam a um só homem sujeitar-se? Tê-las-ia então a Natureza
Por desfastio, feito mais aptas a resistir que o homem?
São as nossas grilhetas, não de si próprias; se um homem
For acorrentado a uma galé, a galé continua livre;
Quem tem uma terra arável, lança-lhe toda a semente,
E admite ainda que o seu solo mais grão devesse gerar;
Embora o Danúbio corra para o mar,
O mar recebe o Reno, o Volga e o Pó.
Pela natureza, que lha deu, esta liberdade
Amas tu, mas Oh! Não poderás amá-la a ela, e a mim?
A semelhança cola o amor: E se isto tu assim fizeres,
Tornando-nos iguais, e a amar, deverei eu também mudar?
Mais do que o teu ódio, odeio isso, deixa-me antes
Permitir-lhe que mude, e não mudar tanto quanto ela,
E assim, não ensinar, mas forçar a minha ideia
A amar, não uma qualquer, nem a todas.
Viver numa só terra é cativeiro,
Correr todos os países, uma desenfreada velhacaria;
As águas depressa fedem, se num só lugar descansam,
E no vasto mar ainda mais apodrecem:
Mas quando beijam uma margem, e deixando-a
Nunca olhando para trás, a próxima margem vão beijar,
Então são as mais puras; a Mudança é a creche
Da música, da alegria, da vida e eternidade.
john donne
elegias amorosas
trad. helena barbas
assírio & alvim
1997
Tenham selado o teu amor, que nada pode destruir,
Sim, e porém te retrates, essa apostasia
Confirma o teu amor; agora muito, muito te temos.
As mulheres são como as Artes, comprometidas com nenhum,
Abertas a todos os inquiridores, sem valor se desconhecidas.
Se eu apanhar um pássaro, e o deixar fugir,
Outro embusteiro, usando os mesmos meios que eu,
Pode apanhar o mesmo pássaro; e, dado as coisas serem assim,
As mulheres são para os homens, não para ele, nem para mim.
Raposas e bodes; todas as bestas mudam quando lhes apraz;
E as mulheres, mais quentes, manhosas e selvagens,
Deveriam a um só homem sujeitar-se? Tê-las-ia então a Natureza
Por desfastio, feito mais aptas a resistir que o homem?
São as nossas grilhetas, não de si próprias; se um homem
For acorrentado a uma galé, a galé continua livre;
Quem tem uma terra arável, lança-lhe toda a semente,
E admite ainda que o seu solo mais grão devesse gerar;
Embora o Danúbio corra para o mar,
O mar recebe o Reno, o Volga e o Pó.
Pela natureza, que lha deu, esta liberdade
Amas tu, mas Oh! Não poderás amá-la a ela, e a mim?
A semelhança cola o amor: E se isto tu assim fizeres,
Tornando-nos iguais, e a amar, deverei eu também mudar?
Mais do que o teu ódio, odeio isso, deixa-me antes
Permitir-lhe que mude, e não mudar tanto quanto ela,
E assim, não ensinar, mas forçar a minha ideia
A amar, não uma qualquer, nem a todas.
Viver numa só terra é cativeiro,
Correr todos os países, uma desenfreada velhacaria;
As águas depressa fedem, se num só lugar descansam,
E no vasto mar ainda mais apodrecem:
Mas quando beijam uma margem, e deixando-a
Nunca olhando para trás, a próxima margem vão beijar,
Então são as mais puras; a Mudança é a creche
Da música, da alegria, da vida e eternidade.
elegias amorosas
trad. helena barbas
assírio & alvim
1997
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