Que dentro há um sol. Como germina no ataúde
invisível do corpo. Como arreigadamente
brilha, com que penumbra de assombrado meteoro,
com que óptima quietude. Alamedas suspensas
esperam, junto do músculo, que se esvazie o fogo
que impregna a noite. É a teia, cerrada,
que regressa; é o raio inverso que revela
com a sua voz seminal as possibilidades
do gelo. A cinza dessangra-se. O cereal,
aproximando-se, procura gargantas onde furtar-se
às ardentes chuvas, fundamentos para a ponte
que só os vivos hão-de pisar, os inermes,
os que se curaram. Touros que respiram como arcos
tensos: ainda não. Acérrimos cavalos
que optam pelo sismo: não. Água que se vertebra,
como um súbito pescoço, ou cravos que a ferem:
ainda não. Terra sem sexo que oferece
o seu voo, a sua lentíssima energia, ás árvores
impacientes; penínsulas faltas de sol e omoplatas,
onde vertiginosos peixes, inacabados
ainda, ignoram o fluir dos sudários.
É demasiado cedo para o tempo.
[…]
eduardo moga
poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
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