26 março 2018

eloy sánchez rosillo / a janela




                Nas tardes de março, quando nada
resta em minha cidade que recorde o inverno
e uma doce moleza invade o ânimo
disposto à indolência,
é belo olhar pela janela
enquanto se ouve música,
ver as horas passar, ver como o tempo
flui e vai declinando pouco a pouco
a luz crepuscular. Nenhum cuidado
nos turba o coração e ocupam-nos
pensamentos amáveis acaso vagamente
melancólicos.
                      Chegam
sombras às ruas e ao aposento
onde, em paz, sozinhos, nos sentimos
talvez quase felizes. No céu
o sol apaga-se e, depois, devagar,
a noite vai acendendo as estrelas.



eloy sánchez rosillo
as coisas como foram
trad. josé bento
assírio & alvim
2004








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