28 fevereiro 2018

paulo teixeira / agosto azul





A Grécia podia ser aqui, entre escarpas
que os seus pés sulcaram de degraus
e o compasso marcado pelas ondas no ouvido.
A terra eleva-se dessa costa submersa
para esta fronteira indolor em que vivem,
escoltados por velas que navegam junto
à praia, numa estação celebrada e eterna.

Corpos cunhados na depressão de uma onda
que emergem, na sua franja de espuma,
para a hora vaga de quem os vê, rapazes
com olhos da palidez do céu, deitarem,
um do outro, a cabeça no peito de armas.

Têm por língua um fraseado antigo
e por senha este costume licencioso.
O grito das gaivotas vai-lhes adormecendo
na areia o desejo e a memória de tudo
sob a luz de um sol que sempre esteve aqui.




paulo teixeira
autobiografia cautelar
gótica
2001








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