Eu sou o anjo do desespero. Com as minhas mãos
distribuo o êxtase, o adormecimento, o esquecimento gozo e dor dos corpos. A minha
fala é o silêncio, o meu canto o grito. Na sombra das minhas asas mora o
terror. A minha esperança é o último sopro. A minha esperança é a primeira
batalha. Eu sou a faca com que o morto abre o caixão. Eu sou aquele que há-de
ser. O meu voo é a revolta, o meu céu o abismo de amanhã.
heiner müller
o anjo do desespero
trad. joão barrento
relógio d´ água
1997
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