27 abril 2015

paul mills / procris



Agora ela usa um roupão azul
Que lhe cobre os tornozelos
E sandálias vermelhas
E um colar
Enfeitado com conchas. Agora ela sorri,
Um sorriso largo, um oceano de luz,

Agora ela olha fixamente para lá da porta.
Agora ela põe em soslaio os olhos vagos.
Agora ela usa um secreto sorriso
Que por vezes muda
Em secreto torpor.

Agora ela dorme, como Procris
Sob as mãos de Pã.
Que achou um leopardo
Numa forma de jovem, adormecida
No travesseiro de suas mãos.

Mas agora ela tenta cobrir-se
De sono. Agora tenta
Lutar para sair dos sonhos.
Agora ela está cerrada como um punho.

A porta abre-se e ela entra na sala.
Não aqui. Ela senta-se, sorri.
Não aqui. Agora ela usa um rosto novo.



paul mills
leituras, poemas do inglês
tradução de joão ferreira duarte
relógio de água
1993





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