«Primavera molhada, » diz To-em-mei,
«Primavera molhada no jardim.»
I
As nuvens acumularam-se e acumularam-se
e a chuva a
cair e a cair
As oito pregas dos céus
dobraram-se num único negrume,
E a estrada longa e plana a prolongar-se.
Detenho-me no meu quarto que dá para leste, calmo, calmo,
Afago o meu novo casco de vinho.
Os meus amigos estão arredados, ou estão lone,
Curvo a cabeça e permaneço quieto.
II
Chuva, chuva, e as nuvens acumularam-se,
As oiti pregas dos céus são um negrume,
A terra plana transformou-se em rio.
«Vinho, vinho,
aqui há vinho!»
Bebo junto à janela que dá para leste.
Penso em conversar e em alguém,
E nenhum barco, ou carruagem, se aproxima.
III
As árvores no meu jardim voltado a leste
rebentam numa
explosão de ramos novos,
Tentam atiçar afeição nova,
E os homens dizem que o sol e a lua giram sempre
porque não conseguem
achar um aconchego.
As aves esvoaçam ao pousar na minha árvore
e a mim
parece-me que as ouvi dizer,
«Não é que não existam outros homens,
Mas nós gostamos mais é deste sócio,
Mas apesar do nosso anseio em lhe falar
Nada ele pode saber da nossa mágoa.»
T”ao Yuan Ming
365-427 d. C.
ezra pound
catahay
tradução gualter cunha
relógio d´água
1995
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