Examinemos um homem no chão.
Testemos a transformação de um
homem por terra
A sua natureza tão diferente da
lava, a sua maneira mineral
De adormecer.
O que mais interessa é ver o seu
lugar rodando para perceber o eixo
Que o move no mundo
Ou como pode a sua posição
orientar as aves e os astros.
Interessa também a pedra que ele
agarra como alimento
Ou que mão escolhe par lhe servir
de funda
─ se é que não usa a própria boca
para lançar o grito.
Examinemos a sua semelhança com um
meteoro que cai
Uma fisionomia sem vocação para
subir ao céu
O peso do seu corpo quando o
nosso olhar o levanta.
Interessa perceber o íman que
cria para nós um lugar junto dele
Um lugar dentro dele. Há um olhar
que nos desloca -
A placa giratória do amor?
Interessa também o coração que
ele agarra como fruto que colhe
Ou que veia abre no corpo para
beber
─ se não é que é a pedra o que
ele bebe com as mãos.
Examinemo-lo como quem sai de
casa e vê o seu irmão
Examinemo-lo voltado, em viagem,
a orientação discreta
De quem cava no peito a bússola.
Interessa reparar como tropeça no
mistério
E se levanta a pedra para
compreender.
daniel faria
homens que são como lugares mal situados
fundação manuel leão
1998
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