08 janeiro 2013

ary dos santos / na mesa do santo ofício




Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.
Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.



ary dos santos
vinte anos de poesia
a liturgia do sangue 1963
círculo de leitores
1983


1 comentário:

Pri Dotta disse...

Lindo isso! Parabéns pelo blog. Já estou seguindo ^^ Beijos! ;*