Faz muito frio,
como convém nestas crónicas.
Trémulo,
desembacio o vidro da janela.
As crianças
esfaqueiam-se alegremente no parque e fazem
Ronaldos na
neve, enfeitando-lhes os olhos com varejeiras da
Petúlia, as
melhores.
Apenas um pouco
para a esquerda, vestidas de lilás, três caudas
de piano lêem
Pessoa, estiraçadas na relva domingueira. Dois
telefones
beijam-se na boca e discam números às escondidas
dos pais.
Lá mais ao
longe, no meu firmamento adivinhado, o Douro
faz amor com a
Ribeira, mas a pensar noutra coisa.
Nas margens, os
pescadores mijam mais do que o habitual.
O TGV, impante,
atravessa o rio sem barbatanas,
“Pena os sáveis
não usarem collants”, pensei, arreliado.
joão gesta
uma falha
nos dentes
porto editora
2019