Num lugar ao sul às aves lentas é dado
o trémulo saber do mar. As asas afastadas,
o sangue inquieto e um único olhar que
enfrente as mãos e o riso da intempérie,
estas aves deslocam-se e viajam, frequente-
mente até ao norte, a uma galiza sonhada
na pureza do céu, sob o trajecto das primeiras
chuvas, em novembro ou outro mês. O frio
transporta-as aos velhos palácios da Cantuária,
a instância do seu nome e do seu fulgor
arrasta-as até aos enormes salões e ameias,
num precipício comum, a aventura leda e
cega do animal, sua rota de acaso, sua beleza
imortal. Nos campos ásperos e molhados dos
manors, rostos, serenidade e demência, perante as
frágeis
regiões que percorrem, abrem sua sulcada voz
e um instante é percorrido desse balbuciar alado,
sombras no céu da silhas, no exacto lugar
de junção das correntes do estreito, caudais
fortes e rápidos, certeza, decisão, um lugar.
Por fim, quando da travessia exaustas, se
Deixam vogar na solidez de um vento, e
Nesse semelhante gesto ao do amor, seu destino
Qual for entre si abertas deliberam.
rui diniz
ossos de
sépia
noemas
língua morta
2022