Se o amor fosse o que é a rosa,
E eu fosse como uma folha,
As nossas vidas cresceriam juntas
No tempo sombrio ou no tempo de uma canção,
Nos campos ventosos ou nos cercados floridos,
No prazer verde ou na dor
sombria.
Se o amor fosse o que é a rosa
E eu fosse como uma folha.
Se eu fosse o que são as palavras
E o amor fosse como uma
melodia
Com um duplo som e um único
Deleite confundir-se-iam os nossos lábios
Com alegres beijos como são os pássaros
Que procuram a suave chuva
do meio-dia.
Se eu fosse o que são as palavras
E o amor fosse como uma
melodia.
Se tu fosses a vida, meu amor,
E eu, o teu amor, fosse a
morte,
Brilharíamos e apagar-nos-íamos juntos
Antes de Março amenizar o tempo
Com o junquilho e o estorninho
E o fecundo alento das
horas.
Se tu fosses a vida, meu amor,
E eu, o teu amor, fosse a
morte.
Se tu fosses serva da dor
E eu fosse o pajem da
alegria,
Brincaríamos durante a vida e as estações
Com olhares amorosos e pérfidos,
Com lágrimas da noite e da manhã
E os risos de donzela e
adolescente.
Se fosses serva da dor
E eu fosse o pajem da
alegria.
Se tu fosses a dama de Abril
E eu fosse senhor em Maio,
Arremessaríamos flores durante horas
E colheríamos flores durante dias
Até que o dia fosse sombrio como a noite
E a noite como o dia fosse
luminosa.
Se tu fosses dama de Abril
E eu fosse senhor em Maio.
Se tu fosses a rainha do prazer
E eu fosse o rei da dor,
Perseguiríamos juntos o amor,
Arrancaríamos as suas penas para voar
E daríamos ritmo aos seus pés
E refrearíamos a sua boca.
Se tu fosses a rainha do prazer
E eu fosse o rei da dor.
a. c. swinburne
poemas
tradução de maria Lourdes Guimarães
relógio d’ água
2006