24 fevereiro 2023

marcos foz / arca e usura

 
[…]
 
chegar a terra incógnita e
de mãos apertadas atrás das costas
explicar a nós mesmos que daí adiante
acabaram os desenhos no trilho poeirento
 
é tempo de tirar os açaimes às ideias
que moldam o caminho e de começarmos
a iniciação ao labor da batota espreitando
um pouco mais pelo limite da venda
 
com os sapatos a espelharem a barbárie
de quem se perdeu propositadamente
um moleiro apanha-nos entre a sombra
do moinho e o toque das buganvílias
 
pergunta-nos o ofício
e cegos de sol não temos oferenda convincente
até que o velho pergunta se somos poetas
que é hábito irem ali alguns amigos da sua filha
 
um rebuçado-surpresa invade-nos o palato
como se durante o sono nos enchessem a
boca de sargaço respondemos que não muito obrigado
– espero somente o vento certo para continuar
 
 
 
marcos foz
arca e usura
edição do autor
2019





 

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