as nossas pernas compridas cruzadas como asas
dobradas, os nossos pés compridos tocando aos pés
da cama na sombra, o alçado gravado como
lápide com uvas. O teu cabelo em desalinho, escuro
como uma avelã negra, frisado como rebentos
de videiras. A tua mão direita na minha mão
direita. A minha mão esquerda na tua esquerda.
Braços entrelaçados como patinadores, estendemo-nos
sob a pintura de uma paisagem de campo: as silvas
negras e difusas como fumo, as árvores
erguendo os cinzentos esqueletos de peixe,
e ao centro, sobre nós,
o calmo lago
mudo como se fora eterno.
satanás diz
trad. margarida vale de gato
antígona
2004