pelas pálpebras se me ferem os dias
e o teu corpo vejo
desfeito entre lençóis:
sombras de dentes
cravados pelos ombros, sinais do tempo
no rebordo das manhãs.
a mim, no poder, me usaste tu
mais do que a ti, no amor, eu usei.
caminhos e túnicas
por iguais desígnios eu tive
e sobre uns e sobre outras
me alonguei
ferindo de atenção pelos olhos
o corpo como conquista.
antinöé é – no entanto –
teu eco e não minha vontade
de lutar contra a morte.
enquanto percorro esta alegria
de saber que, morto tu,
em mim a vida sinto
para te saudar,
ferem-se-me os dias pelas pálpebras
em sono aberto…
livro de lentidão
políptico
companhia das ilhas
2016