O céu agrada-me pensar que é a memória de dois ou
três amigos. Aqueles contra cujos lábios a partir de dentro empurraremos
docemente os nossos nomes e que, quando levam comida à boca, sabem que é a nós
que estão a alimentar. São dois ou três amigos, aqueles só em cujos corações
enfiamos achas, o clarão atinge-lhes os olhos, pensarão: hoje a memória é como
se a trouxéssemos em braços. Não sei se quando o mar lhes vier ao espírito o
ouviremos rebentar, o certo é que por ele às vezes sobem marés. Há ondas que se
vê terem por ele passado antes de contra os nossos corpos deflagrarem.
luís miguel nava
rebentação
poesia
assírio & alvim
2020
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