O teu espírito e
tu são o nosso mar dos Sargaços,
Londres passou
rápida por ti durante todo este tempo
E barcos
brilhantes deixaram-te isto ou aquilo em paga:
Ideias, velhos
mexericos, restos banias de tudo,
Estranhos mastros
de sabedoria e baças mercadorias de valor.
Grandes espíritos
te procuraram - à falta de outrem.
Sempre ficaste em
segundo lugar. Trágico?
Não. Preferias
isso ao costumeiro:
Um só homem
insípido, babado e embotante,
Um espírito
mediano, com um pensamento a menos cada ano.
Oh, tu és
paciente, tenho-te visto sentada
Durante horas,
onde algo poderia ter vindo à superfície,
E agora pagas.
Sim, pagas muito bem.
Tu és uma pessoa
com algum interesse, quem te procura
Retira um
estranho lucro:
Troféus
recuperados do mar; uma qualquer sugestão curiosa;
Factos que a nada
conduzem; e uma história ou duas,
Prenhes de
mandrágoras ou de qualquer outra coisa
Que podia vir a
ser útil, e, contudo, nunca o é,
Que nunca se
arruma a um canto nem mostra utilidade,
Nem vê chegar a
sua hora no tear dos dias.
Antigas coisas
sem brilho, vistosas, admiráveis;
Ídolos e âmbar
pardo e raros embutidos,
São estes os teus
bens, a tua grande riqueza; e contudo,
Apesar de todo
este tesouro marinho de objectos caducos,
Estranhas
madeiras meio molhadas e novas bugigangas mais
[ berrantes,
No lento boiar de
diferente profundidade e luz,
Não! Não há nada!
No conjunto de tudo,
Nada que seja
propriamente teu.
Contudo, isto és tu.
ezra
pound
leituras
poemas do inglês
trad. joão
ferreira duarte
relógio d'água
1993