22 outubro 2023

paulo teixeira / tempo sem fuga




 

 

I
 
Tempo sem tempo
para o amor virtual;
para recitar «em armas sublevam-se»
os seus desejos mais secretos
e a sorte nessas coisas.
 
Tempo sem tempo
para ir mais fundo e subir mais alto
– morte e ascese em nós –
quando a vida é um pesa-papéis
e o passado à mente vem
com sua beleza grutesca
e solidão hospitalar:
 
a flor da idade? (concedam-nos,
p.f., mais voláteis alambiques).
 
 
II
 
Fuga sem fuga
no silêncio
no sono
no clamor que nos leva a voz
e a modulação de certas palavras
fundo na via lacrimal.
 
Fuga sem fuga
na oração nocturna
na dança (coreia) sem o peso do mundo
no último alento antes do salto
para a graça divina.
 
 
 
paulo teixeira
autobiografia cautelar
gótica
2001
 



 

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