29 outubro 2023

vasco graça moura / de olhos fechados

 
 
1
 
deixava-se falar, tecer
excitações sobre o mundo,
na fronteira enervada
de nunca serem horas de dormir.
 
uma presença podia ser
apenas a marca jacente,
a crispação deixada pelo peso
quente da cara na almofada.
 
num relevo de palavras ditas antes,
de olhos fechados, vibrava
o assustador, o subitamente perturbante
de uma maior nudez
 
na febril fabricação da fala
num território alucinado,
como se a luz entrecortasse, extra-
vagando, as imagens.
 
 
 
vasco graça moura
a sombra das figuras
poesia 1963/1995
quetzal editores
2007






 

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