17 outubro 2023

miguel serras pereira / na morte das horas

 
 
Um dia ficámos sós e a teu lado
os anos vão ficando enquanto passam
 
Perdendo-se vão connosco adormecidos
nas casas sem regresso onde moramos
 
Que água lavará da tua boca
o sangue que secou de tanto vento?
 
Quebra-se a espada e vira a sua lâmina
o fulgor contra nós dos nossos olhos
 
Um mar de areia insiste nestas veias
que roubam o alto mar aos mares do sono
 
que as sementes do sangue não semeiam
senão o vento inútil que as secou
 
Árvore moribunda pântano de sede
ou animal que nasce da ferida
 
Agora voam e as asas envenenam-nas
as horas que te esperavam e morreram
 
 
 
 
miguel serras pereira
á tona do vazio & reprise
cinquenta anos de poesia de miguel serras pereira 1969-2019
todo o ano 1990
barricada de livros
2022
 



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