27 março 2022

natércia freire / guerra

 
 
São meus filhos. Gerei-os no meu ventre
Via-os chegar, às tardes, comovidos,
Nupciais e trementes,
Do enlace da Vida com os sentidos.
 
Estiveram no meu colo, sonolentos.
Contei-lhes muitas lendas e poemas.
Às vezes, perguntavam por algemas.
Respondia-lhes: mar, astros e ventos.
 
Alguns, os mais ousados, os mais loucos,
Desejavam a luta, o caos a guerra.
Outros sonhavam e acordavam roucos
De gritar contra os muros que há na Terra.
 
São meus filhos. Gerei-os no meu ventre.
Nove meses de esperança, lua a lua.
 
Grandes barcos os levam, lentamente…
 
 
 
natércia freire
liberta em pedra
1964




 

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