29 março 2022

pierre louÿs / o tempo ido que teima em ficar

 
 
LVII
 
Deixarei a cama tal como ela a deixou, desfeita
e em desalinho, os lençóis entrançados num só,
para que a forma do seu corpo continue impressa
ao lado do meu.
 
Até amanhã não irei ao banho, não me vestirei,
nem pentearei o meu cabelo, com medo
de apagar-lhe as carícias.
 
Não comerei esta manhã, nem mesmo à tarde;
não porei carmim nem pó nos lábios,
para que o seu beijo permaneça.
 
Deixarei as portadas das janelas fechadas
e não abrirei a porta, não vá a lembrança
latente partir com o vento que passasse.
 
 
pierre louÿs
o sexo de ler de bilitis
elegias em mitilene
trad. maria gabriel llansol
relógio d´água
2010




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