Não é que nós, na noite escura, sigamos
a luz vacilante e longínqua de um destino.
É que a noite cruel, para nos atingir, envia
a cada coração um sonho mais belo do que qualquer manhã.
Ela, que das luzinhas de um lugarejo mesquinho
nos faz um palácio de feitiço em cada lonjura
e nos engana, sabendo que somos fracos, assim
ao ter o nosso desejo como única companhia.
E fria, olha para nós. Como uma loba em repouso
alonga pelo espaço a curva do seu corpo
elástica, luminosa, cheia de realeza;
até que, com a altivez dos velhos monstros divinos,
salta do céu para o mundo, e nos faz reféns,
a nós, os pobres vagabundos dos caminhos…
Outubro de 1937
màrius torres
a cidade longínqua
antologia
trad. rita custódio e àlex tarradellas
ovni
2010
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