02 agosto 2018

sylvia plath / ariel




Estase na escuridão.
Depois a bátega de um azul
Imaterial sem fragas nem distância.

Leoa de Deus,
Como fomos sendo uma só,
Eixo de calcanhares e joelhos! – O sulco

Afasta e passa, irmão do
Aro castanho
Do pescoço que não consigo agarrar.

Olhos como os de negro
Bagas lançando escuros
Ganchos –

Bocados de sangue adocicado,
Sombras.
Outra coisa

Me arrasta pêlos ares –
Quadris, cabelo;
Achas dos meus tacões.

Godiva
Branca, não me cai a pele –
Mãos mortas, rigidez de morta.

E agora, eu
Espuma de trigo, um brilho de mares.
O grito de criança

Funde-se na parede.
E eu
Sou a seta.

O relento que voa
Suicida, à uma, em força
Em direcção ao Olho

Vermelho, o caldeiro da manhã.


sylvia plath
ariel
trad. maria fernanda borges
relógio d´ água
1996







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