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Sempre o soubemos: somos erro, erro
que caminha e constrói pirâmides, erro
que julga e apedreja e se solidifica
e reza a Deus e quebra as ancas do vinho.
E antes de perceber ao nosso redor
a lentidão com que trabalham os fósseis, muito antes
de saber que só há um mundo – espera ser –
o que o vento que move os plátanos também
move as nossas correias e que um mesmo escoamento
luminoso – detém-te – arrasta a gangrena
e o silício e o pânico e as folhas do ácer
para um mar de silêncio onde tudo se anula
e dolorosamente recomeça, muito antes
de nos darmos conta da nossa radical
penumbra, construímos a casa dos sabres
e caímos, cobertos de língua, num nadir
de destruição, de edemas e de recifes, de gruas,
de enxertos e suor, de seiva acorrentada,
com a única ambição de iludir o crónico
esqueleto, mas indo até ele, vendo-o erguer-se,
sentindo que se incarna no voo exausto
do condor e da farinha, na polpa indómita
dos assassinados, na hérnia do bosque
que já não vê a luz, que só sente o hálito
dos astros mais negros, lentamente invocados.
eduardo moga
poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
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