Para Luis Muñoz
Não importa se dormiste pouco ou muito,
os espelhos de hotel nunca perdoam
e são como animais de montanha
que não aceitam o convívio dos homens.
A luz dos espelhos familiares
compadece-se de nós, porém,
ajuda-nos a fingir, e por afecto
ou por hábito consegue perdoar-nos.
Eu sei que os espelhos são a água
estagnada de um rio que se move.
E vi como o sol que se reverbera
pode ocultar o lodo das sombras.
Mas quem espreita o fundo dos teus olhos
vê as gretas do tempo, as aranhas
de um passado que surge inesperado
em manhã de hotel e nos ofende.
Para quê responder. Feche os olhos,
porque não há outra coisas que envelheça
pior do que o teu olhar.
luis garcia montero
quartos separados (1994)
as lições da intimidade
antologia
trad. de nuno júdice
abysmo
2018
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