I
Que
a poesia seja uma viagem aos confins do fora ou até ao mais íntimo do dentro,
vivi nela, desde o início da minha empresa, um dentro que é no seu todo um
fora, um fora indissociável do dentro. Senti porém que esse acto de escrita me
exprimia menos do que designava o que eu queria exprimir de mim próprio, e o
meu sentimento não variou desde então. A poesia, aos meus olhos, completa o
homem, não é em nada a sua imagem. Não tinha nenhuma preocupação em criar uma
harmonia entre o mundo e eu, mas tinha sempre o olhar fixo no abismo que se
situa entre nós. Não escrevi portanto poesia no desígnio de encher esse abismo,
mas como errância dentro dele e como exploração. Embora seja solicitado pela
busca do sentido, ou de um sentido, adivinho que a minha identidade não se
estabelece no que é estável, mas no que se move. Sinto que estou do lado do
vento e da vaga.
adonis
arco-íris do
instante
antologia
poética
tradução de nuno júdice
dom quixote
2016
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