III
Espelhos: o que sois na vossa essência,
nunca ninguém saberá explica-lo.
Como os furos do crivo, sois a ausência,
do tempo a preencher cada intervalo.
Vós, que esbanjais a sala inda deserta,
vastos como florestas, quando a noite regressa…
e o lustre, como hastes múltiplas de algum gamo alerta,
vossa água inviolável atravessa.
Tanta vez estais cheios de pinturas.
Umas em vós parecem
entranhadas,
as outras afastou-as a vossa timidez.
Mas a mais bela de todas as figuras
ficará lá no fundo, até nas faces recatadas
romper claro o narciso em sua nitidez.
rainer maria rilke
elegias de duíno e os sonetos a
orfeu
trad. de vasco graça moura
quetzal
2017
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