XXI
Canta meu coração, jardins que não conheces;
claros, fundidos em vidro, impossíveis de alcançar.
Água e rosas de Ispahan e de Chiraz, ah! tece-
-lhes louvores, cantas sua ventura, são sem par.
Mostra, meu coração, que deles não te privas.
E que pensam em ti seus figos que já adoçam.
Que tens trato co as brisas, entre os ramos, vivas,
Como se em rosto transformar-se possam.
Evita o erro de haver falhas, lacunas,
prà decisão cumprida, e essa é: existir!
Fio de seda, entraste no tecido.
Não importa a que imagem lá por dentro te unas
(instante até, numa vida de penas), vem sentir:
só o tapete inteiro e em glória faz sentido.
rainer maria rilke
elegias de duíno e os sonetos a
orfeu
trad. de vasco graça moura
quetzal
2017