Maio
Não nos separarmos do mundo. Não se perde a vida
quando a colocamos à luz do dia. Todo o meu esforço, em todas as posições e
desgraça, as desilusões, é para recuperar os contactos. E mesmo nesta tristeza
que há em mim, que desejo de amar e que inebriamento apenas perante a visão de
uma colina na aragem do fim da tarde.
Contactos com o verdadeiro, a natureza em primeiro
lugar, e depois a arte daqueles que compreenderam, a minha arte se a consigo
alcançar. De contrário, a luz e a água e a embriaguez estão na minha frente, e
os lábios húmidos do desejo.
Desespero sorridente. Sem saída, mas que exerce sem
cessar um domínio que se sabe inútil. O essencial: não nos perdermos, e não
perder aquilo que, de nós, dorme no mundo.
albert camus
primeiros cadernos
caderno nr. 1 (maio de
1935-setembro de 1937)
trad. antónio quadros (?)
livros do brasil
1973
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