Ao Sol cada tronco cai em sombra
e, no chão, a floresta ou o pomar
mostram o duplo real que nos enfrenta.
Passamos sobre sombras entre as árvores
atentos ao desenho singular,
que não pisamos, dos intervalos da luz.
Passamos entre as sombras e não lançamos
os braços em redor de cada árvore,
ávidos da suave escuridão pisamos
os troncos que tombaram junto à sombra.
Se vou ao pomar das árvores cítricas
escolher o fruto que nos dá o aroma,
aí, ao lado década tronco, eu vejo
a umbela de sombra que nos impele
para o desejo desse fruto duplo.
E a memória retém o objecto e o Outro,
tronco de choupo ou copa de limoeiro;
conhecermo-nos, como diz Sócrates,
é conhecermos no Outro quem nós somos.
A sombra serve ao Canteiro para o traço
da infinita recta, que se torna curva
e lhe dá a forma ideal que reúne
o recto e o curvo, o perto e o além.
No frontão do Pórtico inscreveu
na medida da sombra a esfera do Sol.
Cada dia temos as mínimas sombras
de tudo o que recolhe a mão,
e as nossas casas jazem diante de si mesmas
e vão rodando no seu eixo de sombra.
O cone escuro da nossa própria Terra
escurece a luz do luar branco.
Na geometria dos vultos planetários
por fim ficamos, na escurecida Terra,
predizendo o sentido do futuro.
30/11/93
fiama hasse pais brandão
cantos do canto
relógio d´água
1995
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