Prescindindo dos motivos, vamos ater-nos à maneira
correcta de chorar ou seja, um pranto que não ingresse no escândalo, nem
insulte o sorriso com paralela e torpe semelhança. Consiste o pranto médio ou
corrente numa contracção geral do rosto e num som espasmódico acompanhado de
lágrimas e ranho, este último no final, já que o pranto termina no momento em
que uma pessoa se assoa energicamente.
Para chorar, dirija a imaginação para si mesmo, e
se isto lhe for impossível por haver contraído o hábito de acreditar no mundo
exterior, pense num pato coberto de formigas ou nesses golfos do estreito de
Magalhães onde ninguém entra.
Quando o pranto começar, você cobrirá com decoro o
rosto usando para tal ambas as mãos com as palmas viradas para dentro. As
crianças chorarão com a manga do bibe a tapar a cara, e de preferência a um
canto do quarto. Duração média do pranto, três minutos.
júlio
cortázar
histórias de
cronópios e de famas
manual de
instruções
tradução de alfacinha da silva
editorial estampa
1973
1 comentário:
qual o modo verbal e usado nesse texto
Enviar um comentário