Devemos
andar sempre bêbados. Tudo se resume nisto: é a única solução. Para não
sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a
terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas
com quê? Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto. Mas embriaga-te.
E
se alguma vez, nos degraus dum palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na
solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou
desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o
que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a
tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são: «São horas de te embriagares! Para
não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem
cessar! Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto».
charles
baudelaire
o spleen de
paris
trad. antónio pinheiro guimarães
divulgação
1963
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