Não
me crio nem me invento, aceito-me como sou na minha humanidade… e com nervos,
com músculos, com as voltas do cérebro para imaginar e as voltas dos intestinos
para a vida, dentro das voltas da vida, não como se andasse sozinho, mas torto e
acompanhado, triste e com a pele alegre de olhar os outros e de sentir o vento
através da camisa e sobre as pálpebras fechadas, como nas tardes de moleza em
braços de mulher.
Faço
dos meus joelhos escada para os meus ossos, e em tudo de cima é que ponho a
minha carne cheia de cerebrosinhos à flor da pele, tal como nasci.
Por
isso, Narciso pelos meus dedos, sinto-me a vida que tinha de viver, e gosto dos
meus olhos – segredos duma alcova aonde me possuo.
quási canções
1932
antónio pedro
antologia poética
obras clássicas da literatura
portuguesa séc. xx
edição de fernando matos oliveira
angelus novus, editora
1998
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