Não sabes ainda, poeta
que o poema empurra com a espada
que o poema empurra com a barriga?
É aragem a escuridão que sopras
e sonho o que na vertigem bocejas cansado
a poesia que empurras e empurras.
Quem nos dera, não era? Um poema
do repouso que varresse sem sangue
todas as misérias do horizonte
como folhas verdes as palavras.
Mas num qualquer outro instante este cortejo
também será esquecido, 65 vezes esquecido
segundo um determinado consenso.
Pois (porém) vamos juntos,
sim, amorosos do martírio dos outros,
são assim os poetas, talvez, empurrados.
Mas para onde e em nome de quem?
antónio quadros ferro
voo rasante
antologia de poesia contemporânea
mariposa azual
2015