28 maio 2025

cesare pavese / eles estiveram lá

 
 
 
Lua terna e geada nos campos ao dealbar do dia
assassinam o trigo.
 
                            No plaino abandonado
aqui e ali putrefacto (é preciso tempo
para que o sol e a chuva sepultem os mortos),
era mesmo assim um prazer acordar e ver
se também a geada os cobria. A lua
inundava tudo, e alguns pensavam na manhã
em que a erva brotaria ainda mais verde.
 
Aos aldeãos que olham choram-lhes os olhos.
Este ano, quando o sol voltar, se voltar,
Só haverá folhinhas queimadas para segar.
Lua tenebrosa – só sabe comer as brumas,
e, em noites claras, as geadas são como dentada de serpente
que da verdura faz tanto estrume. Eles estrumaram
a terra; agora também o trigo ficará feito em estrume,
e não vale a pena olhar, e estará tudo ardido,
putrefacto. É uma manhã que deita abaixo um homem,
só de acordar e percorrer com os vivos
todos aqueles campos.
 
                                 Verão despontar mais tarde
algum tímido verdor na planura deserta,
sobre o túmulo do trigo, e terão de lutar
para o reduzir também a estrume pelo fogo.
Porque o sol e a chuva protegem só as ervas daninhas
e a geada, depois de queimar o trigo, não volta mais.
 
 
 
cesare pavese
antepassados
trabalhar cansa
trad.carlos leite
cotovia
1997




 

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