(Lá de fora da Cidade vem o Coro
da
Lamentação Geral em honra dos
pobres her-
óis que morrem pelo que
JULGAM-QUE-
EXISTIU. Festa fúnebre com
foguetes de
lágrimas.
Entramos no Banco. – Não há poemas
sociais sem bancos nem
banqueiros. De cha-
ruto. )
II
A caricatura do Banqueiro…
(a verdadeira imagem ficou em casa a sorrir para o filho)
… dum lado para o outro
a entrar e a sair do espelho.
Parecia mal trazer os olhos secos
agora que os homens morriam
contra si mesmos
nos Dias Habituados.
E lágrimas? Nem uma.
Só as pérolas da mulher
choradas pelos náufragos
nos colos de bruma
dos bailes do Cofre Forte.
E era urgente,
era necessário
aquecer a morte.
Então
– sempre em casa a sorrir para o filho com a Boca Verdadeira –
untou-se de luz postiça,
correu ao sótão em frente
e com voz de sacrário
depois da burocracia da missa,
foi pedir as lágrimas emprestadas
à engomadeira
que continua a tossir nos versos de Cesário.
E ela deu-lhas.
«Leve-as. Até me apetece descansar um bocadinho da injustiça.»
josé gomes ferreira
poesia V
lágrimas trocadas - 1956
portugália
1973
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