26 novembro 2019

joaquim manuel magalhães / meu amigo


  
Meu amigo, amigo que depois foste de nós dois,
abençoado de rosto e corpo, guardasses-me tu
na convulsão de tábuas de um abraço,
nessa prisão que na altura não entendi.
Seria agora um galardão, uma honra tão alta
na memória, não apenas uma noite,
dessas curvadas pela despedida. Desse-me Deus
de novo, meu amigo, o torreão, a desordem, os teus passos,
esses laços que podia ser eu a desatar. Nada
em toda a extensão e duração do mundo
desejava mais do que dizer-te: foste
quem naufragou em maior temor e amor
a minha, a nossa – é difícil dizer – vida.



joaquim manuel magalhães
os poços
uma luz com um toldo vermelho
editorial presença
1990





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