Fecha os olhos como se a morte
Viesse hoje buscar-te
E fecha a memória da luz
Para a levar com a tua obscuridade,
Nela está a forma das coisas,
A sorte, a ilusão dos sentidos,
O vaivém da temporalidade.
Leva contigo tudo
Nesse encerrar sobre ti
Que és fusão com o nada;
Há uma viagem de que não sabemos
Nem em que consiste
nem se nos liberta
Deste desassossego de estar vivos
Pendentes da morte
Com a ameaça eterna do nada.
Fecha os olhos como se a vida
Tivesse sido uma ficção, um sonho
E vai-te retirando,
E vai-te despojando da matéria,
De dor, de consciência, de sentidos,
Dos restos amargos do amor,
E vai-te acostumando a não ser nada,
Nada, nada, tanto nada
Como se nunca tivesses
Do ser formado parte.
Esta é a suprema renúncia,
A maior que te falta cumprir.
josé luis puerto
trad.
jorge melícias
apeadeiro
revista de atitudes literárias
n.º
2 primavera de 2002
quasi
2002
Sem comentários:
Enviar um comentário