08 novembro 2019

josé gomes ferreira / e ainda hoje por lá ando a correr



IV

E ainda hoje por lá ando a correr
na superfície das manhãs paradas
a gastar-me com os mortos
– e a deixar cair invenções de sombras nas estradas.


Depois perdi as mãos
de tanto escrever no musgo da parede
por baixo dum desenho obsceno inocente:

«Futuro,
deixa-me continuar a ter sede.»


                                  («Futuro.
                                  deixa-me continuar a ter sede.»
                                  Vou mandar desenhar este lema na bandeira
                                  vermelha com o meu brasão.)




josé gomes ferreira
poesia V
memória – I (1957-1958)
portugália
1973




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