Aqui o inferno mata as profissões
Que têm acesso ao ar.
Diz-se que deus se absteve
De criar servidores para os condenados
Ao tédio.
Morre-se no emprego
Com a garganta apertada por uma mão
Sem ossos.
Aqui os anos crescem pouco ou nada.
Os dias e dias secam na raiz.
Não há horas felizes.
O sol sempre se deu bem com gente como esta
Que salpica de chuva os seus pequenos
Afazeres
Para ficar em casa.
Gente com plenos poderes
Para desmanchar a festa que se alonga
Para lá da cabeça.
Diz um: eu sou o sábio de domingo.
Agora não me ocupo de dias úteis, de remendos d’alma,
De fragilidades.
Esperem por mim mas só depois
Da missa.
Diz outro: a ética é grega de nascença
Movemo-nos por números, já sentenciava Pitágoras.
Não cunhamos moeda, não sujamos as mãos
Nos improvisados remos do naufrágio.
O nosso destino é perguntar.
Parece que deus quis que não nascesse a obra.
Nascer que nasça o sol
E é bastante.
Quem pergunta ao sonho pelo homem
De serviço?
Nos campos vicejam novamente as urtigas
São restauros agrícolas,
Exemplos a seguir, ordens vindas de cima,
Ao ouvido,
Na sala dos banquetes.
O mar faz de cão velho e deixa-se ficar
À espera no patamar dos mitos.
Ninguém o suporta
Nem ao seu uivar aos pés
Da história.
Comovidos estamos, com um não sei quê,
Um quanto, um como, uma dor
Que levanta asas
E vai do vale à montanha
Como vão os monges cavaleiros
À televisão.
Aqui a cidade abre-se para lá da noite
E é sempre belo ver a madrugada
A chorar os seus ídolos.
Aqui os que têm coração
Têm desconto.
armando silva carvalho
sol a sol 2005
o que foi passado a limpo, obra poética
assírio
& alvim
2007
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