Despe-te de
verdades
das grandes
primeiro que das pequenas
das tuas
antes que de quaisquer outras
abre uma cova
e enterra-as
a teu lado
primeiro as
que te impuseram eras ainda imbele
e não
possuías mácula senão a de um nome estranho
depois as que
crescendo penosamente vestiste
a verdade do
pão a verdade das lágrimas
pois não és
flor nem luto nem acalanto nem estrela
depois as que
ganhaste com o teu sémen
onde a manhã
ergue um espelho vazio
e uma criança
chora entre nuvens e abismos
depois as que
hão-de pôr em cima do teu retrato
quando lhes
forneceres a grande recordação
que todos
esperam tanto porque a esperam de ti
Nada depois,
só tu e o teu silêncio
e veias de
coral rasgando-nos os pulsos
Então, meu
senhor, poderemos passar
pela planície
nua
o teu corpo
com nuvens pelos ombros
as minhas
mãos cheias de barbas brancas
Aí não haverá
demora nem abrigo nem chegada
mas um
quadrado de fogo sobre as nossas cabeças
e uma estrada
de pedra até ao fim das luzes
e um silêncio
de morte à nossa passagem
mário cesariny
manual de prestidigitação
assírio &
alvim
1981
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