Entre a bicicleta e a laranja
vai a distância de uma camisa branca
Entre o pássaro e a bandeira
vai a distância dum relógio solar
Entre a janela e o canto do lobo
vai a distância dum lago desesperado
Entre mim e a bola de bilhar
vai a distância dum sexo fulgurante
Qualquer pedaço de floresta ou tempestade
pode ser a distância
entre os teus braços fechados em si mesmos
e a noite encontrada para além do grito das panteras
Qualquer grito de pantera
pode ser a distância
entre os teus passos
e o caminho em que eles se desfazem lentamente
Qualquer caminho
pode ser a distância
entre tu e eu
Qualquer distância
entre ti e eu
é a única e magnífica existência
do nosso amor que se devora sorrindo.
(1949)
Publicado, inédito,
por Mário Cesariny na revista "MELE - International Poetry Letter",
revista de Honolulu dirigida por Stefan Baciu cujo número de Março de 81 foi
integralmente dedicado aos poetas surrealistas portugueses.
Sem comentários:
Enviar um comentário