Às vezes fico com a vista parada
─ por exemplo numa parede ─
durante um bom bocado. os olhos
deixam de ver por fora e o corpo
parece que não o sinto. Então
normalmente dou-me conta
(e não mo explico e espanto-me)
desta coisa estranha que é viver,
e faço-me perguntas que cortam
e o que sou concentra-se num ponto
e a única coisa que sinto é que eu
─ a voz que vive em mim e que me
diz
isto e aquilo sem palavras ─
também serei menos um. Em breve.
Que tudo o que penso agora,
o que pensei e chegarei a pensar
há muito que não é nada.
juan miguel lópez
poesia espanhola, anos 90
organização e trad. de joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000
1 comentário:
... E como é difícil, por vezes (muitas vezes?), aceitar que somos efémeros e fúteis. Ainda assim, nesse nada que somos há muito, temos sempre imenso para descobrir.
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