Ursa Maior, desce noite hirsuta,
animal de pêlo de nuvens e olhos antigos,
olhos estelares;
irrompem cintilantes da espessura
as tuas patas e garras,
garras de estrelas;
atentos, vigiamos os rebanhos,
e, ainda que fascinados por ti, evitamos
os teus flancos cansados, os teus dentes aguçados
meio descobertos,
velha ursa.
Uma pinha: o vosso mundo.
Vós: as suas escamas.
Movo-o, faço-o rolar
dos pinheiros do princípio
aos pinheiros do fim:
farejo-o, tenteio com o focinho
e arrebato-o com as garras.
Que tenhais medo ou não:
deitai o vosso óbulo na caixa tilintante e dai
ao cego uma boa palavra,
para que tenha a Ursa pela trela.
E temperai bem os cordeiros.
Poderia acontecer que esta Ursa
se escapasse e já não ameaçasse
antes desse caça a todas as pinhas
caídas dos pinheiros, grandes, aladas,
despenhadas do Paraíso.
ingeborg bachmann
trad. josé lima
rosa do mundo
2001 poemas para o futuro
assírio & alvim
2001