18 julho 2017

wystan hugh auden / blues fúnebres




Parem todos os relógios, desliguem o telefone,
Não deixem cão ladrar aos ossos suculentos,
Silenciem os pianos e com os tambores em surdina
Tragam o féretro, deixem vir o cortejo fúnebre.

Que os aviões voem sobre nós lamentando,
Escrevinhando no céu a mensagem: Ele Está Morto,
Ponham laços de crepe em volta dos pescoços das pombas
     da cidade,
Que os policias de trânsito usem luvas pretas de algodão

Ele era o meu Norte, o meu Sul, o meu Este e Oeste,
A minha semana de trabalho, o meu descanso de domingo,
O meio-dia, a minha meia-noite, a minha conversa, a minha
      canção;
Pensei que o amor ia durar para sempre: enganei-me.

Agora as estrelas não são necessárias: apaguem-nas todas;
Emalem a lua e desmantelem o sol:
Despejem o oceano e varram o bosque;
Porque agora tudo é inútil.


w. h. auden
diz-me a verdade acerca do amor
dez poemas
trad. maria de lourdes guimarães
relógio d´água
1994




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